14/05/2013

Os escolhidos


"Hoje, mais de meio século depois, eu me pergunto, por mera curiosidade, por que será que não escolhi torcer pelo Flamengo? Afinal, o Flamengo já era o time mais querido do Rio. (...) Em nome de que idéia? (...) Afinidades eletivas, meus amigos. Coisas do coração. Mistérios da alma." - Armando Nogueira, jornalista.


Há certas coisas na vida que parecem acontecer e que já vem definidas para você devido a um capricho divino. É claro que a localização geográfica influencia em muito. Digo isto porque - dificilmente - um menino sueco vai resolver torcer pelo Botafogo. Friso o dificilmente. A introdução (meio confusa) desse texto vai ser explicada pela história que vou contar.


As vezes somos escolhidos independente de nossa vontade ou consciência sobre o assunto. No futebol, os botafoguenses muitas vezes são fruto de um acaso divino. Na minha cabeça, só se pode tornar botafoguense por histórico familiar ou por uma imposição superior. Quando digo imposição superior, estou me referindo a uma definição divina mesmo. Pois, o que levaria alguém sem o histórico de botafoguenses em sua família a torcer pelo Botafogo? Por exemplo, o que levaria um menino de 5 anos a torcer pelo Botafogo quando estávamos passando por derrotas consecutivas em finais para nosso maior rival? Acontece.

O ano era 2009 e eu seguia de ônibus para o trabalho. Era uma viagem curta, cerca de 10 minutos. Entrei devidamente uniformizado com minha camisa do Botafogo - havíamos vencido algum time pequeno no dia anterior. No ônibus, quase vazio, um menino de 5 anos - acompanhado de sua mãe - olha pra mim e sorri. Ali deu pra sentir que era botafoguense. O diálogo que se seguiu, pelo que me lembro, foi mais ou menos assim:

Sorrindo, a mãe dele se vira para mim e diz:

- Esse aqui é botafoguense!
- Escolheu bem. - respondi.
- Pois é, - continuou ela - o pai e o tio são flamenguistas. Não sei da onde ele tirou essa ideia de ser botafoguense.

Fiquei sem resposta. Acabávamos de ser bi-vice para nosso rival, não era um bom momento, sem ídolos, sem muita perspectiva, mas o menino de 5 anos parecia ter sido escolhido.


- O pai já tentou dar camisa do Flamengo, já incentivou ele a ir a jogos e nada. Ele cismou com o Botafogo! - falou a mãe.

Fiz aquela brincadeira tradicional, dizendo que o menino tem bom gosto desde criança, que sabe o que é bom, etc, mas fiquei com essa história na cabeça.

Hoje, 4 anos depois, o menino deve ter cerca de 9 anos. Não sei se ainda é botafoguense. Nunca mais o vi - pelo menos não reconheceria. Acredito que continue sendo, pois uma decisão dessa é difícil de ser desfeita. O Botafogo é um clube especial, de história, ídolos, cismas, paixões e manias únicas, muito além do comum de outros clubes.

Realmente há coisas que só acontecem com o Botafogo. E ter torcedores verdadeiramente apaixonados pelo clube é uma delas.

Botafogo ontem, hoje e sempre! - 'D.V.'

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